ANÍBAL PEDREIRA 1951-2021 "sinto muito a tua falta"

 

Querido pai, meu amigo, meu tropa, meu exemplo, meu Pai, começo por dizer que onde estás agora,

ao lado do Senhor, fica em paz fizeste um excelente trabalho, eu como teu filho mais velho recebi

e apreendi todos os teus ensinamentos, sem palavras, somente com a tua vida, e como combatias 

os teus dias com a dignidade própria dos grande Homens.

Foi ao ver-te que aprendi, não existem famílias perfeitas, relacionamentos cor de rosa, histórias de amor como nos filmes, e principalmente como nas novelas, a regra básica do que é ser um Trabalhador, com toda a profundidade que esta palavra carrega, como deve ser um homem digno e correcto, sem medo de enfrentar o mundo, quando se entra numa batalha, apenas por dizer a verdade, por este exemplo eternamente grato.

Nunca foste de entrevir na vida e nas decisões dos teus três filhos, e eu bem sei que muitas vezes querias dizer algo, mas continhas a tua vontade por amor, respeito, e por colocares nas mãos de Deus 

a caminhada dos teus descendentes, e mais uma vez te digo agora com muita pena minha não pessoalmente, estiveste muito bem, sempre, sempre, percebeste cedo que os rebentos têm que aprender a voar sozinhos, com o medo normal de qualquer pai, mas com a grandeza de poucos, dando liberdade

para as opções dos filhos, serem dos próprios.

És grande, quero ser um digno discípulo de ti meu querido, espero estar à tua altura quando eu, agora

também pai, tiver que deixar os meus rebentos voar, tive um bom exemplo, se existir dúvida, nessa hora basta imitar-te e sei que estarei a fazer o mais certo.

Sinto muitas saudades de ouvir a tua gargalhada, ao leres uma boa crónica, ou a ver um filme ou cena digna de uma valente gargalhada descontrolada, saudades de ler as tuas introduções/opiniões no início de todos os mails que me enviavas, saudades de ter a segurança de saber que desse por onde desse estarias 

lá sempre para mim, juntamente com a mãe, prontos para toda e qualquer guerra, pelos filhos, mas com 

nobreza e coragem, para repreender caso estes estejam errados, ao agir menos bem.

Saudades de estar em palco, com os inúmeros projectos e bandas que já tive, e olhar em frente e ver-te sempre discreto, na primeira fila com a tua mulher ao teu lado, mais exuberante, bastante normal do

que é ser mãe, "o mundo congela, quando um filho geme" , saudades de discutir política e todos os assuntos contigo, saudades de chegar a idade adulta, e ter o prazer de saber que quando querias tomar 

uma decisão importante, procuravas sempre conversar comigo, não para eu te ajudar, mas sim porque 

davas muito valor a minha opinião, eternamente grato, meu querido.

Hoje choro como uma criança, e o meu peito fica com sintomas de enfarte, devido à tristeza, de já não te ter aqui ao meu lado como sempre estiveste, mesmo sentindo que estás agora a ler e a ouvir o teu filho mais velho.

Saudades de em todos os treinos do teu neto Tomás, fazeres questão de chegar primeiro que eu ao clube, e ao bar do mesmo, para me pagar um café, que eu iria beber ao teu lado falando de Tudo, ouvindo, aprendendo, partilhando, sonhos, tristezas, sabedoria, tanta coisa meu Pai, tanta coisa, obrigado por tudo.

Saudades de ver a alegria e amor incondicional pelos teus netos, sem preferências, em igual modo, a sobremesa da vida como escreveste, no teu brilhante livro, tenho pena, de após a primeira leitura

não ter atingido a importância e grandeza do teu livro, que Obra de arte, digo-te agora, ouve meu amado, está um brilhante livro, o teu pai, meu avó, agora ao teu lado já te deve ter dito, como ficou orgulhoso da tua obra, conseguiste registar, recordar, elevar, uma vida um trajecto, que vivencias-te

como filho, colocando no devido lugar o senhor meu avô, um médico nato, pessoa que nasce para 

ter a profissão à sua imagem, inspirando todos os seus descendentes.

É infinito o que te tenho para dizer o mais importante vou te dizer no meu dia a dia, se não te importares, para finalizar quero só dar-te a certeza, e a paz, de que eu teu filho mais velho irei lutar sempre, pelos meus, por mim, por ti, pela mãe pelas minhas irmãs, ensinaste-me muito bem, mesmo sem nunca me dizeres uma única palavra acerca do terror que foi a guerra colonial, onde estives-te na frente de combate, mas eu percebi, e aceitei, traumas não são para ser partilhados, a menos que seja necessário, obrigado por tudo és e serás sempre um bom exemplo para mim, para os teus filhos e netos, que sentem muito a falta do avô, com pouca saúde, mas sempre pronto para um jogo com os miúdos, mesmo com tonturas próprias da tua condição física, após enfarte e tumor, és grande, estas aqui ao meu lado,

e vais estar sempre, do teu filho que te ama, até breve, quando a minha hora chegar meu querido meu velho meu amigo.  

Pedro Miguel Belo Ribeiro Pedreira

Pepedrópo

06/2022