quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Prof ANDREW OITKE

O prof.  Andrew Oitke publicou o seu polémico livro «Mental Obesity», que revolucionou os campos da educação, jornalismo e relações sociais em geral.
Nessa obra, o catedrático de Antropologia em Harvard introduziu o conceito em epígrafe para descrever o que considerava o pior problema da sociedade moderna.
«Há apenas algumas décadas, a Humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por uma alimentação desregrada.
Está na altura de se notar que os nossos abusos no campo da informação e conhecimento estão a criar problemas tão ou mais sérios que esses.»
Segundo o autor, «a nossa sociedade está mais atafulhada de preconceitos que de proteínas, mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono.
As pessoas viciaram-se em estereótipos, juízos apressados, pensamentos tacanhos, condenações precipitadas.
Todos têm opinião sobre tudo, mas não conhecem nada.
Os cozinheiros desta magna "fast food" intelectual são os jornalistas e comentadores, os editores da informação e filósofos, os romancistas e realizadores de cinema.
Os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os donuts da imaginação.»
O problema central está na família e na escola.
«Qualquer pai responsável sabe que os seus filhos ficarão doentes se comerem apenas doces e chocolate.
Não se entende, então, como é que tantos educadores aceitam que a dieta mental das crianças seja composta por desenhos animados, videojogos e telenovelas.
Com uma «alimentação intelectual» tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que esses jovens nunca consigam depois uma vida saudável e equilibrada.»

Um dos capítulos mais polémicos e contundentes da obra, intitulado "Os Abutres", afirma:
«O jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas.
A imprensa deixou há muito de informar, para apenas seduzir, agredir e manipular.»
O texto descreve como os repórteres se desinteressam da realidade fervilhante, para se centrarem apenas no lado polémico e chocante.
«Só a parte morta e apodrecida da realidade é que chega aos jornais.»
Outros casos referidos criaram uma celeuma que perdura.
«O conhecimento das pessoas aumentou, mas é feito de banalidades.
Todos sabem que Kennedy foi assassinado, mas não sabem quem foi Kennedy.
Todos dizem que a Capela Sistina tem tecto, mas ninguém suspeita para que é que ela serve.
Todos acham que Saddam é mau e Mandella é bom, mas nem desconfiam porquê.
Todos conhecem que Pitágoras tem um teorema, mas ignoram o que é um cateto».
As conclusões do tratado, já clássico, são arrasadoras.
«Não admira que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência.
A família é contestada, a tradição esquecida, a religião abandonada, a cultura banalizou-se, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia.
Floresce a pornografia, o cabotinismo, a imitação, a sensaboria, o egoísmo.
Não se trata de uma decadência, uma «idade das trevas» ou o fim da civilização, como tantos apregoam.
É só uma questão de obesidade.
O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos.
O mundo não precisa de reformas, desenvolvimento, progressos.
Precisa sobretudo de dieta mental.»

sábado, 6 de dezembro de 2014

DEAD COMBO

Blitz

Os dead combo gostam de falar na dualidade que se traduz no facto de o Pedro Gonçalves ter estudado e do tó Trips não ter tido educação musical formal. Invertemos a lógica: o que é que o Pedro desaprendeu e o que é que o tó aprendeu nos Dead Combo ?

Pedro- Posso dizer que aprendi que é possível ter uma outra abordagem à música, encará-la como qualquer coisa mais orgânica e intuitiva.

Tó Trips- O que aprendi é que numa banda cada um tem o seu papel e que é muito importante conseguir confiar na outra pessoa ...


sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

MIA COUTO

Identidade


Preciso ser um outro 
para ser eu mesmo 

Sou grão de rocha 
Sou o vento que a desgasta 

Sou pólen sem insecto 

Sou areia sustentando 
o sexo das árvores 

Existo onde me desconheço 
aguardando pelo meu passado 
ansiando a esperança do futuro 

No mundo que combato morro 
no mundo por que luto nasço 

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"
As tetas da alienação

testemunha ocular da miséria mental que é mistificar a tristeza
banal de viver a juntar tanta coisa vital para a vida vulgar
parecer divinal e com isso ocultar a pobreza real de um
gesticular reduzido a sinal não consigo calar a origem deste mal
que nos anda a atacar a todos por igual tudo assenta no consumo e
produção são as tetas desta nossa alienação trabalhar ou morrer
é-nos dado escolher o trabalho é direito transmutado em dever
não se pode morrer já lá diz o preceito e se formos a ver não há
nada a escolher para sobreviver o trabalho é foral não morrer
consumindo não se chama viver o consumo é o aval para se ir
produzindo e com seu acrescer fecha o ciclo infernal tudo
assenta no consumo e produção são as tetas desta nossa alienação
são as tetas o consumo e a produção são as tetas da nossa
alienação

MIKHAIL 1988-2014

Ontem fui abalroado por uma noticia que me tirou o chão, sem existência de tremor de terra, tinha várias chamadas no meu telémovel, e retribui a chamada, para meu espanto atendeu uma senhora, pelo sotaque pareceu-me de LESTE, a qual vim a descobrir que era mãe do MIKHAIL, um jovem que trabalhou para mim durante as suas férias da faculdade, a sua mãe confundiu o meu numero com de um colega de universidade, e deu-me a noticia assim, como uma bomba, ELE MORREU ...
Este jovem suicidou-se , não tive coragem de perguntar pormenores, mas fiquei sem palavras, na prática convivi com ele dois meses com um intervalo de um ano pelo meio, mas nesse espaço de tempo, deu para gostar deste individuo o suficiente para ficar triste com a sua perda, estremamento educado, trabalhador, terminou o liceu a universidade, trabalhou para pagar os estudos, tirar  a carta de condução, e outras coisas, nada faria prever este fim ...
A vida por vezes é madrasta, este desabafo é insignificante, mas não poderia deixar de o fazer, é o minimo que posso fazer em sua homenagem ...
A todos nós que aqui ficamos e estamos, cada vez mais acredito, que é importante aproveitar cada momento, pois amanha poderá não existir ...
MIKHAIL boa viagem ...