quarta-feira, 30 de agosto de 2023

FORA DE JOGO

 



Leva o teu tempo 

como o rei das marés em cada sete

ou mudança eleva a tua existência, 

só assim merece a pena gastar tinta

na tela ...

Estica bem o pano pois depois de secar

o tempo passar o que era deixará de ser,

e o que foi em tempos coisa fresca,

passará a ser pasta elegante, mas 

estática, até alguém num rasgo

pouco inspirado pintar por cima 

ou rasgar obra já feita ...

E depois ?

Logo verás de que obras te deves 

alimentar, ou simplesmente cagar,

retretes há muitas 

O Artista ...


Pepedrópo

A PIDE E OS INTELECTUAIS


 

Por volta das dezoito horas do dia 

30 de Novembro de 1939, 

três agentes da PSP concretizam a detenção

de Miguel Torga, no consultório que correspondia 

a residência do autor, em Leiria, apreendendo de imediato um 

exemplar do livro " O Quarto Dia " .

Após dar início à instrução do processo crime, 

foi remetido para Lisboa para ser interrogado

pela Polícia Política

ITERROGATÓRIO:

- És então escritor ?

Sou

- E poeta também, pelos vistos ...

Também

- Um tipo formidável ! Medico, escritor, poeta ...

vais longe !

Hei de ir até onde puder.

- Muito me contas ! E queres fazer então a 

revolução social ?

Quero que me deixe em paz .

- Deixo, mas antes vais responder a umas perguntazinhas ...

Não tenho nada a acrescentar às declarações que já fiz .

- Tens ora pensa lá bem ...

ouve eu podia pôr-te a falar como um papagaio,

era só dar-te uma corda, mas não vale a pena.

Temos muito tempo, fica para mais tarde, verás que daqui a alguns dias 

mudas de ideias.

Não mudo não.

- Mudas, mudas ...


Durante o período em que esteve detido

Torga forjou alguns dos seus mais célebres 

poemas de resistência, " Canção " " Claridade ".

A obra que motivou a detenção do escritor apenas voltaria a 

ser editada em 1971, " O Quarto Dia " esteve impedido 

de circular em Portugal 32 anos, e a relação de Miguel

Torga com máquina repressiva foi sempre tensa.

 

Jornal de Letras

JL


# Para quem teima em esquecer, Liberdade sempre ...

Pepedrópo