terça-feira, 23 de agosto de 2022

JAM 1974-2022

 Começo por dizer que ainda estou chocado com a perda deste amigo,

apanho-me desprevenido, emotivo, a recuperar de uma perda, o meu 

querido e saudoso pai, logo a embarcação abanou como se de mar 

alto se tratasse, ou estivesse a navegar.

As saudades são já muitas, para me reconfortar tenho, temos pelos 

quatro cantos do mundo a sua arte, maior, ETERNA.

OBRIGADO por seres quem fostes, és uma inspiração, um 

exemplo de luta, qualidade, resiliência, o meu mais sincero 

obrigado.

Aqui junto uma homenagem, de outro amigo, maior, que me levou às 

lágrimas, enquanto esperava que o lidl de Sesimbra abrisse, obrigado 

também querido Ico, as tuas palavras tocaram-me muito.



Quem me conhece, sabe o amor que tenho à RUA... às suas histórias... às suas personagens...
Hoje, por causa de uma triste notícia, apetece-me escrever mais uma história!
Para quem não tem noção da grandeza que a RUA tem, em algumas partes da história vou fazer um ponto de comparação com o mundo do Futebol (do espetáculo em si, não do mundo pornográfico do dinheiro e dos interesses).
Esta história começa no fim dos anos 80, no início da minha adolescência, quando eu, como muitos miudos da altura, começamos a tirar a nossa licenciatura, mestrado, doutoramento à cultura de RUA, e tínhamos aquele hobbie de irmos à escola e às aulas. 
No mesmo espaço onde eu e os meus amigos dedicavamos o nosso amor à RUA, ao Punk e Hardcore, apareceram uns putos a conquistar o seu espaço na RUA. 
Eram os Zulus! Zulu Nation!
Começava assim uma História... Que se tornou Gigante! Era o inicio do que hoje se chama Hip-Hop tuga... Para mim, na altura eram os gajos do Rap. Com as suas calças gigantemente largas com faixas de lado, com bonecos pintados por eles mesmo. Começavam a surgir nas paredes da nossa querida RUA os primeiros desenhos pintados a spray... 
É por esta altura, que mudo de bairro onde vivia e na escola sigo artes. É aí que sortemente ganho como vizinho, colega de escola e acima de tudo companheiro de RUA e grande amigo Dé aka Youthone
O Dé era um desses putos que ia fazendo aparecer uma cultura nova na nossa querida RUA. 
O Dé aka Youthone é um artista predestinado. Tudo onde toca transforma em arte. A primeira palavra que terá dito, antes de dizer mamã e papá, deve ter sido Lápis!
O Dé aka Youthone, na comparação com o futebol é um Messi. Tudo é magia!
É por esta altura, nos intervalos das aulas, ou quando faltavamos às aulas, que conheço o Jam aka Nomen. O Jam aka Nomen era um verdadeiro Rapper, a cortar com os estereótipos da sociedade. Calças gigantemente largas e pintadas, fio/corrente no pescoço e um cap (boné) com uma placa de metal a dizer NASTY BOY! Nunca soube se o Jam estudava lá na escola... Mas todos os dias, vinha de manhã e de tarde, mostrar ao Dé, os desenhos e pinturas que fazia no seu bloco... Para nós que éramos de artes e até tinhamos algum jeitinho para desenhar.. com a ignorância arrogante da idade, gozavamos com os traços Naifs do Jam... Mas a sua persistência fazia com que ele todos os dias viesse mostrar os seus desenhos, o seu querer, ao Dé... E os desenhos semanalmente iam ficando melhores. 
O Jam numa comparação com o Futebol, é um Cristiano Ronaldo! 
O querer dele, o querer tornar o sonho realidade... Fez do Jam uns dos melhores artistas que conheci!
Eu sinto-me um sortudo por ter estado ao lado, de crescer, de viver, de beber, de respirar RUA, mesmo sem fazermos parte da mesma cultura, destes dois gigantes!
Mas a história não acaba por aqui... Era apenas o começo... Voltando à comparação com o futebol... só me vem à cabeça os Galácticos no Real Madrid. 
Na RUA, os Galácticos eram os PRM CREW!
Quando estes dois gigantes se juntam ao Exas e começam a pintar, a bombar, todas as paredes existentes na RUA! As paredes da cidade cinzenta e monótona, começam a ter cor, vida e a oferecer arte a quem não podia, não conseguia ir a centros de arte ou museus.
Cada pintura que faziam, era motivo de romaria, para que varios jovens de deslocassem para fora do bairro, para ir ver mais uma obra de arte! 
Os PRM quebraram todas as regras de uma sociedade cinzenta. 
O resto é a história que já está contada no Hip Hop tuga, com os grandes Micro e a sua Microlandia!

A diferença entre a cultura de RUA e o Futebol, é que no futebol existem televisões e jornais para vender paixões, na Rua existem paixões para encher corações!

Voltando à triste notícia que me faz escrever este texto. O falecimento do gigante Jam aka Nomen. 
O Jam é o exemplo de uma pessoa acreditar nela própria! É o exemplo de nunca desistir dos nossos sonhos! É o exemplo de ser obreiro para levantar a sua própria vida! Felizmente, para mim, consegui lhe agradecer ainda em vida, de ele ser meu amigo e de o usar como exemplo aos meus filhos. Para que eles percebam que não há impossíveis!
E sei Jam, que vais pintar o universo todo, naves, ovnis, cometas vão ser bombados e tagados pelas tuas latas.

Da-lhe forte Nomen!  




segunda-feira, 15 de agosto de 2022

O meu vizinho AUGUSTO CESÁRIO

Começo por dizer que tive muita sorte, tenho um vizinho e sua

rspectiva esposa que são uma maravilha, uma joia, excelentes

pessoas, simples mas com uma humanidade, infelizmente

nos dias de hoje raras.

Augusto é um idoso, de avançada idade casado com Elvira também 

sábia na idade, este meu querido vizinho que amo de morte, e defendo 

até ao fim do mundo, porque é meu amigo, e como tal não existe mal que o 

possa atingir sem me atingir a mim, seu vizinho, primeiro, só por sermos 

vizinhos e amigos.

Este meu grande amigo, vive no rés do chão, e eu no primeiro andar, ambos 

somos da fracção Esquerdo, e partilhamos afinidades com a esquerda a nível 

de politica, mas sem sermos fervorosos apoiantes ou militantes, eu falo por 

mim não me revejo na actualidade com a realidade de nenhum partido.

Nós os dois somos parecidos numa particularidade, gostamos de cantar dentro e fora 

de casa sem vergonha, sem pudor, tentando não incomodar ninguém, mas com a 

segurança de um bom cantor, sem palco, ou plateia, cantamos porque nos sabe bem,

porque somos felizes, e gostamos de ver a felicidade, estampada nos rostos alheios.

Graças ao meu querido vizinho sei alguns cantares alentejanos, e existe um código 

entre nós, um cantar que é meio da autoria de AUGUSTO CESÁRIO, que adoro dizer 

e vislumbrar o sorriso do meu vizinho, que vai mais ou menos assim: 


Quem canta seu mal espanta,

Quem chora seu mal aumenta,

Eu canto para disfarçar 

A paixão que me atormenta …


Tive uma fase da minha vida,

Em que não comia mais,

Porque não tinha,

Hoje, felizmente, não como mais, 

para manter a linha ...


Minha mãe foi pobrezinha, 

Não teve para me dar,

Dava-me beijos às vezes,

Depois punha-se a chorar ...


Minha mãe que bem dançava,

Meu pai era bom cantor,

Eu as duas coisas faço,

Mas não com tanto primor ...



Eu apenas digo as duas primeiras estrofes deste lindo poema,

e sei que vou ter como resposta, um sorriso verdadeiro, é para 

isto que vivo, que respiro, que me alimento e me concretizo, 

o resto pode esperar, já deixou de ter importância.


Pepedrópo