domingo, 19 de junho de 2016

UMA BALA VEM À BAILA

Para atravessar contigo o deserto do mundo
para enfrentarmos juntos o terror da morte
para ver a verdade para perder o medo
ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
minha rápida noite meu silêncio
minha pérola redonda e seu oriente
meu espelho minha vida minha imagem
e abandonei os jardins do paraíso

Cá fora à luz sem véu do dia duro
sem os espelhos vi que estava nua
e ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
e aprendi a viver em pleno vento


Sophia de Mello Breyner Andresen



 

Um comentário:

Anônimo disse...

Uma das grandes poetas contemporâneas da Língua Portuguesa, mais uma vez, no seu melhor...

Aníbal