sábado, 20 de fevereiro de 2010

Autobiografia imaginária

Aqui perto vende-se flores.
Hoje percebi que nunca comprei flores. Nunca por amor ou morte.
A senhora que as vende vem ver o que anda na rua e tantas vezes me diz bom dia ou boa tarde sem mais conversa.
Tem um rosto triste de quem não condiz com reconhecida beleza que vende.
Passaram dez anos desde a morte do meu pai, foi um domingo, ele estava amarado, sem falar, porque havia passado a noite com delírios a arrancar os tubos das veias. A minha mãe disse-lhe vamos levar-te para casa, ainda te vamos levar para casa. Ele fechou os olhos e morreu.
Quando voltar ao cemitério as flores terão murchado.
Acho que se escolhem flores para ali se colocar para nos obrigar ao regresso e à memória ...



Valter Hugo Mãe
jornal de letras

Nenhum comentário: